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Bruxaria Tradicional, Tradicionalidade, Bruxaria, Antigas Crenças, Feitiçaria e Folclore
   
 
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Entrevistas

 

ENTREVISTANDO - Alberto Junior ti Ogun Alakaye

ENTREVISTA: Respeito a Identidade Religiosa


CBT: Olá, Alberto, primeiramente agradeço por ceder essa entrevista. Gostaria que falasse um pouco sobre você e seu trabalho com relação às Tradições Africanas.
Cordiais Saudações.
Desde que me entendo por gente, tenho contato com as religiões de matizes Afro-Brasileiras, meu avô, por parte de mãe tinha terreiro de Umbanda, cresci vendo as reuniões, meu avô, entrava em transe pelo menos quatro vezes por semana. Meu avô era iniciado no candomblé para o Orixá Omolu, Babalorixá Jaime Ramos de Omolu, dirigia o terreiro de Vovó Candinha na zona norte de São Paulo, era um terreiro que a parte central do barracão era de areia da praia, os guias, caboclos, pretos velhos, boiadeiros, em transe dançavam sobre a areia.
Em 1985 me iniciei no Candomblé com o Babalorixa Paulinho de Osossi nação Ketu, em 1985 deixo de praticar a religião, por motivos de trabalho, relacionamento e idade, aonde o jovem, procura e tem outros objetivos, pelo menos eram os meus na época.
Em 1996 retomo meu caminho dentro do Candomblé e da religião dos Orixás, aprendendo estudando.
Em 2002 me iniciei no Culto de Orunmila com o Babalawo Ifátunde nativo da cidade de Ilê Ifé, Nigéria em São Paulo- SP. Em 2009, entro para casa de Axé do Babalawo Ifa Sula Oju Oba Omi Julio, Ile Ase Osetura no Rio de Janeiro, neto do Príncipe Ogunjime (Obeokuta Nigéria) e Babalawo Basalawo (Nigéria), que estavam presentes, quando recebi o titulo e cargo de Babalawo Ifawotunde Alberto Junior ti Ogun Alakaye e Yemonja.
Em 2003 passo para o Axé da família do Babalorixá Valdomiro Costa Pinto ou Ze baihano, meu bisavó dentro do axé de ketu, hoje estou na nação Nagô Xangô, filho de Mestre Baba Cícero de Xangô Aganju, neto Mestre Baba Paulo de Bomin e Mãe Rosa Detaio de Yemanja Dalogun, bisneto de Mestre Baba Apolinario e posteriormente Baba Orobo.
No Candomblé fui sagrado para o Orixá Ogun Alakaye e Yamonja Ogunte.
Hoje dirijo o Centro Xamã de Estudos Espirituais. Luz Holística e o Ilê Asé Ifá Orisá, uma casa de culto de Ifá Orunmila, Candomblé Nagô e Culto a Jurema dos Mestres.
Tive a oportunidade de aprender a Pajelança Juremeira Tradição Kariri Xoco com nativos de Alagoas.
Todas estas praticas são Tradicionais.

CBT:Seus estudos e práticas relacionadas às Tradições Africanas foram conquistados como?
Nas religiões de matizes Africanas, o aprendizado maior vem através da Oralidade, por ser tratar de uma religião secreta, só aprendemos os Oros (segredos) após a iniciação, participação e vivencias dos ritos e segredos.
E claro que hoje em dia temos muitos bons livros escritos por historiadores, sociólogos e antropólogos a respeito do assunto, aonde vêm engrandecer, nosso aprendizado, principalmente os livros considerados clássicos, obviamente existe, muitas besteiras escritas sem base, histórica e científica.

CBT: Acredita que essas tradições e espiritualidades poderiam ser apenas procedimentos de feitiçaria sem estarem ligadas ao culto religioso?
De forma alguma a Religião Africana ou o Candomblé, seja ela de Origem Africana ou Afro-Brasileira, que tenha origens no Culto aos Orixás Nigéria, Vodum Daomei, Nkisi Angola Kongo, podem ser apenas um simples procedimentos de feitiçaria.
A religião Africana esta ligada a uma profunda e complexa mitologia, ritos e procedimentos, iniciáticos, seja a religião do Culto aos Orixás, Vodum e Nkisis. Só posteriormente a feitiçaria e incluída no aprendizado, e não são todos que aprendem tudo.
E importante lembrar que anteriormente ao trafego negreiro a África possuía uma religião única e regional, viviam em uma sociedade totalmente organizada e prosperas. Seja a religião dos Orixás Nigéria, Vodum Daomé ou Nikisis Angola Kongo.

CBT – Com toda essa vivência que a senhor possui nas crenças africanas, é possível existir auto iniciados?
De forma alguma existe auto iniciação no Culto aos Orixás ou em qualquer religião aborígine ou nativa. Mesmo as modalidades mais novas como Umbanda e Kimbanda que agregaram elementos do Culto aos Orixás e Nkisis.
Seria impossível a existência desta modalidade, existem ritos, atos, procedimentos que são necessários toda uma equipe para este fim.
Para uma sagração de um Babalawo têm que estar pelo menos 3 Babalawos presentes.
No candomblé Nagô, você só nasce de um Pai e Mãe, tem que ter um Babalorixá e uma Yalorixa presentes. Fora toda uma equipe que participa e tem funções especificas.
Uma pessoa não iniciado no culto dos Orixás pode operar desastre na vida das pessoas que procuram o culto, por não estarem preparados ou mesmo não serem reconhecidos, pelas energias que podem chegar, o sacerdote tem que ter o controle, saber acalmar, despachar (mandar embora) etc....
Diferente das manifestações populares, como no final de ano aonde e costume nosso povo levar presentes para Yemanja, como flores, perfumes, velas, bebidas, espelhos etc., ou mesmo alguma pessoa entregar uma farofa, bebida e fumo para Exu na encruzilhada. Presente você pode dar para qualquer pessoa, seria igual a entrar em uma igreja de Santo Expedito e levar flores ou de Nossa Senhora Aparecida e fazer o mesmo.
Culto aos Orixás ou mesmo aos ancestrais, não e só fazer oferendas, existe todo um preparo e uma jornada, tem que ser percorrida.

CBT – Muitos tradicionalistas têm um posicionamento firme com relação a sua cultura, com o seu folclore, diria que as religiões africanas fogem a esse procedimento?
De forma alguma fogem este procedimento, o folclore, lendas, musicas, comidas típicas, artesanato, fazem parte das culturas tradicionais.

CBT – Referente aos costumes tradicionais africanos, acredita que é possível misturar um panteão grego ou egípcio no culto?
Não existem misturas nas praticas tradicionais, dentro do Candomblé ou no Culto de Orunmila.

Tenho amigos que são iniciados em linhagens diferentes Africanas, Orixás e Nkisis, cada um tem seu espaço separado, os ritos, trabalhos, são feitos separadamente, para não gerar confronto de energias. Não se mistura forças distintas, o ser humano não agüentaria com certeza, isto e muito prejudicial ao nosso sistema de energia psico-físico.

CBT: O que significa os deuses para o senhor? São seres divinos e personificados ou arquétipos energéticos apenas para uso da prática de feitiçaria?
Os Deuses são uma criação a parte de Olorum ou Elodumare.
Os Deuses são seres com personalidades próprias, vivos e ativos, cada um rege um aspecto da natureza.
Os Deuses Africanos, não são meros arquétipos energéticos, estão presentes vivos e bem ativos, na natureza, habitam o céu assim como a terra, estão perto dos seres vivos, humanos, animais, regem as forças da natureza.
Não manipulamos ao bel prazer os Deuses Africanos para pratica da feitiçaria.
Os sacerdotes africanos consultam o Oráculo dos Orixás, que pertence ao Orixá Orunmila (Deus dos Destinos) para poder praticar, cultuar ou mesmo fazer trabalhos para, prosperidade, saúde, limpeza espiritual, amor, estabilidade financeira, seguimos as ordens e tudo que fazemos temos que ter a permissão dos Orixás.

CBT – O que o senhor acha de pessoas que usam da sabedoria tradicional, dos procedimentos mágicos sem o mínimo de respeito aos preceitos daquela religião?
Trágico isto, sem comentários. Lamentável, os que se escondem atrás dos Orixás, para praticarem baixa magia.
A religião Africana existe para o bem, crescimento, aprendizado, evolução, elevação de seus fieis. Não para prejudicar ou satisfazer o próprio ego, achando que pode manipular as forças dos Deuses ao seu bel prazer.
Os que procuram à religião dos Orixás deveriam pesquisar, estudar e saber, quem e a família e origens do Axé do sacerdote.

CBT – É possível dentro da óptica de um tradicionalista, passar todo o conhecimento de uma vida através de um simples livro? Não seria mais aproveitável e razoável essa pessoa freqüentar o local e ter suas vivências na linha religiosa?
Impossível passar tanto conhecimento e um único livro ou mesmo vários livros.
A religião dos Orixás e cheia de Oros (segredos), que são passados no dia a dia da casa de axé. A vivencia e fundamental. Não existe livro que transmita o Pulo do Gato.

CBT – Como o senhor vê como um líder o avanço e intervenção de escolas esotéricas nas sendas tradicionalistas?
Acho que as escolas esotéricas têm um papel importante no que se refere à espiritualização planetária.
Mas infelizmente muitas linhagens, criticam, agridem e não suportam os tradicionalistas, talvez seja por falta de conhecimento ou mesmo de evolução ou espiritualização. Pois não existe pior e nem melhor caminho, CADA UM TEM O SEU CAMINHO.
Para muitos tradicionalistas, muitas escolas esotéricas, fazem invenção da cabeça, tem inspiração da própria mente ou puro transe psíquico animista. Nos tradicionalista vamos por um caminho mais cientifico, Histórico, Sociólogo, Antropológico, nossas bases de estudos são mais cientificas e tradicional.
E sem contar que as Tradições Nativas existem, desde que o mundo entrou em contato com o Divino e Oculto. Talvez desde a origem do homem.

CBT – O que tem a dizer aos jovens e peregrinos que buscam um caminho tradicional?Estudar, Estudar, Estudar, nosso caminho não e para pessoas preguiçosas e que correm de livros e de estudar.
Procurar um bom sacerdote mestre, conhecer a linhagem mais a fundo.
Ter razão e também aprender Seguir o Coração.

CBT – Falaremos de Identidade Religiosa, o senhor acredita que um rótulo genérico possa empobrecer os caminhos espirituais e termos mais discussões religiosas e assim mais desrespeito?
Com certeza o rótulo genérico empobrece e gera mais discussões a respeito da religião ou mesmo a forma de culto. Mesmo dentro de uma única linhagem já existe diferenças. As religiões de matizes africanas possuem varias nações e métodos, como: Ketu, Jeje, Nagô, Angola, sistema Africano, Afro-Brasileiro, Afro-Cubano, etc.
Com certeza existe a divergências, então uma base de uma boa discussão e o respeito e entendimento de um para com o outro, sem ataques.

CBT – Hoje temos muita gente falando sobre o Voodoo, qual a sua origem?
O Vodum tem origem no pais Daomei, no Brasil as nações ligadas ao Culto aos Vodum e o Jeje, Jeje Mahi, Tambor de Mina, Nagô Jeje e Jeje Nagô.
Vodum seria para os Daomeanos o mesmo que Orixás para os Nigerianos.
Um Orixá muito popular que na verdade a origem de seu culto e no Daomei portando e um Vodum, e o Vodum Obaluaye ou Omolu, outro Vodum também muito cultuado no Brasil, como Orixá e Vodum e Osunmare.
Importante lembrar que culto aos Vodum e muito diferente ao culto aos Orixás, os ritos, atos, materiais, ervas, lendas e iniciações são diferentes, energias distintas porem parecidas.

CBT - Bruxaria e Tradições Africanas podem ser consideradas como uma só religião? Há alguma relação entre as duas?
Não. Bruxaria Tradicional ou Neo são uma coisa e a religião dos Vodum, Orixás e Nkisis outra. São religiões e praticas distintas aonde ambas realizam trabalhos mágicos, liturgias, rituais etc., porem possuem mitologias, ritos forma de iniciações distintas e muito diferentes.

CBT - Como ocorre o processo de iniciação nas Tradições Africanas? Qualquer um pode ser iniciado? Existe algum preparo, tempo de dedicação?
Sou Iniciado em Orixá, não em Vodum, mas de uma forma em geral, as iniciações em Candomblé, o futuro iniciado, passa por um preparo grande, fica recluso 21 dias, onde ele passa por uma serie de rituais, banhos, preparos para a vinda do Deus em questão, após estes 21 dias de Ronko (quarto Iniciático) ainda o Yao (iniciado) cumpre mais 3 meses de preceito guardando o corpo se guindo uma serie de procedimento, em sua nova vida ou jornada.
Para o Yao (iniciado) se tornar Tata no Vodum o mesmo que Baba (Pai) para o Orixá são 7 anos de preparo.
Infelizmente não e qualquer pessoa que pode se iniciar na religião Africana ou Afro-Descendentes.
Cada um tem o seu caminho, acredito que o mesmo acontece com a Bruxaria Tradicional.

CBT – O senhor se sentiria confortável, caso alguém lhe chamasse por outro nome religioso ao invés do qual foi ensinado/ iniciado, tal como dizer que o senhor é um bruxo, pois faz bruxarias entre outras colocações?
De forma alguma, sou Sacerdote, cultuador de Orixás, um feiticeiro. Pratico minha religião por amor. Então, o preconceito e intolerância, só vai mostrar, a ignorância, falta de espiritualização e esclarecimento da pessoa em questão.

CBT – Em sua opinião, como é visto os tais estudiosos religiosos que entram na religião para tentar dissecá-la, não seria melhor um próprio praticante, que acredita em valores específicos religiosos ter uma visão mais ampla e enriquecedora?
A vida e muito simples temos que fazer o que gostamos, amamos, entramos em uma religião porque gostamos. Se a pessoa entra em uma religião, e quer modificá-la ou mesmo vampirizar seus ensinamentos, no caso do Candomblé ou Culto aos Orixás, ela não vai se dar bem, pois os ensinamentos são passados aos poucos, à medida que pegamos confiança, a dedicação e observada, jamais eu ensinaria muito a uma pessoa, que não tem o mínimo de interesse.
E se alguém fizer isto dentro do Africanismo, não será bem vista pelo povo do Santo, ou mesmo pelas pessoas que pesquisam e ate querem entrar para o Candomblé ou Culto aos Orixás, vodum, Nkisis.

CBT – Tem muita coisa de dentro das tradições que só quem está dentro pode saber, não é?
Sim, sé quem entra pode saber dos Oros (segredos) e mesmo assim pode ser passar anos e a pessoa não vai ter acesso a determinadas coisas, e uma questão de confiança e conquista de merecimento, que fica a cargo dos próprios Deuses ou Encantados.

CBT – O senhor é tido como um inovador no aprendizado, acha que tem muito "entendido" tentando ensinar no mercado?
Ate posso ser considerado um inovador, mas porem isto e cultural em África, determinados conhecimentos são populares, para o povo conhecer. Outros ensinamentos são resgates culturais, mas jamais a pessoa vai aprender tudo em um curso, determinados conhecimentos só são transmitidos, após iniciação em nossa linhagem.
Meu Avô no Culto de Orunmila, Babalawo Príncipe Ogumjimi, tem um Centro Cultural Africano, possui um projeto de resgate da cultura Africana no Brasil, quando o Culto dos Orixás chegou ao Brasil foram feitas muitas adaptações por questões regionais, climáticas etc..Não vejo problemas em ensinar no mercado. O que ocorre e que você tem que pesquisar muito bem, a tradição, origem, conhecimento do Sacerdote que a pessoa procura.
Que existem, pseudos entendidos, esta cheio sim, alias um montão.

CBT – Quando o senhor depara com alguma distorção na internet, principalmente de sites gringos; acredita que exista uma solução para evitarmos a proliferação da famosa feitiçaria ou religião fast-food?
Sim, existe uma solução simples, o conhecimento, estudo e pesquisa. E fundamental para as religiões Tradicionais, Iniciáticas.

CBT – Tem algum contato para obter mais informação do seu trabalho?
Ifawotunde Alberto Junior ti Ogun Alakaye
Nosso Grupo na Web:http://br.groups.yahoo.com/group/O_Mundo_Holistico/
Conheça nosso trabalho Home:http://www.luzholistica.info
[email protected]

Abraço

Ase ti OLorum
Novo portal:http://www.culturalbrasilafrica.luzholistica.org/

 

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